Aula: Tem muitas histórias do Brasil nas telas de Tarsila

O estudo do quadro Operários, de autoria da primeira-dama do modernismo, permite observar como o país ingressou no mundo industrializado, no início do século 20.
nome Brasil, musa radiante
que não queima, dália sobrevivente
no jardim desfolhado,
mas constante em serena
presença nacional fixada com doçura,
Tarsila amora amorável d'amaral
prazer dos olhos meus onde te encontres
azul e rosa e verde para sempre"(*) Trechos de BRASIL/TARSILA de Carlos Drummond de Andrade
Pintura onde Tarsila se retrata.O verso À tua passagem entre brincos alude aos brincos que Tarsila usava e com os quais, aliás, se auto-retratou (Auto-retrato I, 1924). Em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, Sérgio Milliet lembra que Tarsila "estudava com André Lhote e a todos encantava, não só pelo talento como pela beleza. Porque era uma das mulheres mais bonitas de Paris, essa 'caipirinha' de Monte Serrat. Lembro-me de certa noite em que, no ballet des Champs Elysées, toda a platéia se voltou para vê-la entrar em seu camarote, com a negra cabeleira lisa descobrindo e valorizando o rosto e os brincos extravagantes quase tocando-lhe os ombros suavemente amorenados."
Auto-retrato ou Manteau Rouge - Em Paris, Tarsila foi a um jantar em homenagem a Santos Dumont com esta maravilhosa capa (Manteau Rouge, em francês, significa casaco, manto vermelho). Além de linda, usava roupas muito elegantes e exóticas, e sua presença era marcante em todos os lugares que freqüentava. Depois desse jantar, pintou este maravilhoso auto-retrato.
Introdução
O Ensino da arte lida com aptidões, dificuldades e limites dos participantes, tornando cada experiência única e pessoal. Dentro das variações do estudo da arte, o desenho é uma linguagem que a criança tem contato desde que aprende a manejar o lápis e a desenvolve gradativamente no decorrer dos processos de aprendizagem em que é submetida. Desenhar a figura humana faz parte desse aprendizado e, entre as variadas modalidades desse segmento, o auto-retrato (forma de representação em que o artista desenha ou pinta a si) é uma importante ferramenta no processo do desenvolvimento pessoal e de autoconhecimento.
Em duas aulas, o professor guiará os alunos em atividades focadas em suas representações, utilizando apenas papel, lápis e lápis de cor, para projetar uma profissão para o futuro. Os alunos ainda serão instigados a conhecer e analisar obras de conceituados artistas da História da Arte que tratam da mesma temática.
Objetivos -
Iniciação ao desenho da figura humana por meio do auto-retrato
- Ampliar a noção de espaço e proporção em relação ao suporte utilizado (papel sulfite)
- Analisar e contextualizar os trabalhos a partir das profissões escolhidas por cada aluno
- Apreciação e leitura de imagem
- Introdução à História da Arte
Conteúdos
- Reprodução de obras de artistas escolhidos pelo educador que têm no processo de trabalho o desenho da figura humana e auto-retrato
Materiais necessários -
Papel sulfite, lápis, borracha - Reproduções de auto-retratos de artistas como Van Gogh, Anita Malfatti, Francis Bacon, Albrecht Durer e Tarsila do Amaral.
Desenvolvimento das Atividades
1ª aula- Auto-retrato e profissão Propor aos alunos que façam um desenho de si mesmos, um auto-retrato que imaginem, e se coloquem em uma das profissões que almejam para o futuro. Antes da execução, o educador pode abordar temas como o tamanho do suporte e o do desenho, a proporção e a construção da figura humana.
Essa atividade deve ser feita sem uso de referências ou imagens para que os alunos não sejam influenciados por trabalhos de outros artistas e para que também consigam ter maior liberdade em suas escolhas.
No decorrer da aula, o educador vai observando e analisando os desenhos dos alunos em si e abordar questões sobre as escolhas profissionais de cada um. Assim, poderá orientar não só composição das figuras das profissões e na escolha de acessórios que complementem o entendimento dos desenhos.
Depois dos desenhos prontos, o educador pode ainda discutir com os alunos sobre os resultados e as projeções de cada um, fazer com que eles escolham os trabalhos que mais apreciaram e os motivos dessas escolhas. Outra opção é abordar as qualidades dos desenhos e fazer comparativos de proporção e tamanhos.
2ª aula- Contextualização No segundo momento, o educador pode esclarecer sobre os aspectos históricos de artistas que têm a temática do auto-retrato no processo de criação e, então, introduzir os alunos na análise de imagens, fazendo com que os estudantes percebam as diferenças entre obras de arte e comparem como cada artista aborda o mesmo assunto de acordo com suas realidades. Avaliação Verificar a qualidade das produções levando em conta as limitações e aptidões de cada aluno.
Aula: Tem muitas histórias do Brasil nas telas de Tarsila
O estudo do quadro Operários, de autoria da primeira-dama do modernismo, permite observar como o país ingressou no mundo industrializado, no início do século 20.


Operários: destaque da fase social da pintora, a tela mostra os vários rostos dos trabalhadores da recém-inaugurada indústria brasileira
Peça de teatro, minissérie de TV, exposições bem cuidadas e um site oficial jogaram luzes este ano sobre a obra e a vida privada de Tarsila do Amaral (1886-1973). Tamanho destaque se justifica pela produção da artista, considerada a primeira-dama do modernismo brasileiro e uma das responsáveis pela criação de uma arte genuinamente verde-amarela. O trabalho da pintora passa por várias fases, como a pau-brasil, a antropofágica e a social. Desta última, que contribuiu para solidificar no nosso imaginário o início da industrialização do país, a tela Operários se destaca.
O quadro pintado em 1933 é um verdadeiro painel da nossa gente, a mesma que veio dos quatro cantos do país e do mundo para pegar pesado nas fábricas, que na época começavam a transformar a paisagem brasileira. "Trata-se de um marco histórico na obra de Tarsila, pois, se ela já fora no Brasil a precursora do cubismo e do surrealismo nas artes plásticas, detém-se agora na pintura de assunto eminentemente social", escreve Nádia Battella Gotlib, autora de uma das mais completas biografias da pintora. Operários funciona como ponto de partida para você falar sobre o surgimento dos grandes centros urbanos brasileiros. Esse é o tema do roteiro indicado para turmas de 5ª a 8ª série que você verá a seguir. Ele contempla as disciplinas de Artes, História e Geografia e foi elaborado por Maria Lúcia Medeiros, professora da Escola Vera Cruz, em São Paulo; Roberto Giansanti, autor de livros didáticos de Geografia; e Marco Antônio Pasqualini, professor de Artes Plásticas da Universidade Federal de Uberlândia (MG). Depois, confira sugestão de atividades de Artes para classes de 1ª a 4ª série.
A nossa revolução industrial
Mostre para a classe a reprodução da tela que ilustra a página ao lado e aborde, inicialmente, a temática social. Pergunte o que os estudantes sabem sobre o funcionamento de uma fábrica e os processos de transformação de matérias-primas. Quais os setores industriais que mais prosperaram no Brasil? Ouça as opiniões e ensine que o conceito de fábrica foi criado pela Revolução Industrial, na Inglaterra do final do século 18. Ele sugere a divisão social do trabalho e a incorporação de novas tecnologias de energia. A indústria, de forma geral, transforma elementos da natureza em objetos fabricados por máquinas operadas pela mão do homem.
Conte à turma que as primeiras fábricas brasileiras dedicavam-se à produção de bens não-duráveis, como tecidos e alimentos. A partir dos anos 1930 e, principalmente depois da Segunda Guerra Mundial, o nosso parque industrial diversificou-se e passou a produzir os chamados bens duráveis automóveis e eletrodomésticos e produtos da indústria de base (cimento, petroquímica e siderurgia).
Instigue a curiosidade da garotada sobre outros aspectos históricos referentes a Operários: aponte os elementos de fundo e os detalhes sobre as figuras humanas. O que sugere o semblante das pessoas? Alguém arrisca dizer qual era a intenção da artista? O que a pintura está anunciando? Há nela alguma denúncia social? (Veja mais informações sobre a industrialização em São Paulo no quadro abaixo.) Hoje, como poderíamos retratar uma cena de trabalhadores?
Anote as hipóteses citadas, escolhendo as principais. Faça os esclarecimentos necessários e proponha uma pesquisa sobre urbanização, industrialização e imigração no início do século 20. Sugira que os alunos elaborem textos sobre o período eles podem ser ilustrados com fotos, gravuras e desenhos relativos à época.
De olho nos elementos visuais da tela
De início, incentive comentários sobre os aspectos visuais do quadro por meio de algumas questões.
Como os personagens estão organizados?
Há uma geometria que dá ordem aos elementos?
Os personagens se agrupam ou são mostrados de forma isolada?
Quais as cores usadas pela pintora?
O que são os cilindros verticais no canto superior da tela?
Que cidade é essa?
Quem são as pessoas representadas? Elas pertencem a diferentes raças ou classes sociais?
Os estudantes devem perceber que há negros, brancos, japoneses, mestiços, homens, mulheres e crianças de várias idades formando a cena. Ressalte a postura das pessoas: elas estão todas de frente, tendo apenas a cabeça e parte do colo aparecendo. Essa pose sugere padronização e anonimato, apesar dos acessórios individuais. Será que os alunos conseguem distinguir alguém famoso? Mário de Andrade (1893-1945), autor de Macunaíma, é o homem de óculos no meio das pessoas; Oswald de Andrade (1890-1954), o poeta que foi casado com Tarsila, está no canto superior da pintura. Mostre assim que há tanto pessoas humildes, do povo, quanto intelectuais e artistas naquela "multidão" representada.
Conte que Nádia Battella Gotlib aponta em seu livro que os rostos, surreais, levitam, suspensos, tal como o próprio rosto da artista no seu famoso Auto-Retrato. A mensagem, porém, não é mais de beleza radiante. É de miséria e dor. Cada um deles exibe, de modo marcante, a sua própria fisionomia. Algumas delas a artista constrói, inclusive, com base nos traços de pessoas conhecidas. Há força em cada uma dessas expressões que fitam, de frente e corajosamente, o espectador.
É hora de comparar as figuras
Depois dessa análise, teça comentários sobre a formação da pintora e contextualize sua produção. É hora então de aproveitar Operários para trabalhar semelhança e diferença com a garotada de 1ª a 4ª série. O aluno vai fazer composições próprias, no plano ou no espaço, e notar como cada elemento do conjunto possui um caráter especial, individual, único.
Peça às crianças que reúnam objetos variados (latinhas, tampinhas, roupas, canetas, folhas de árvores etc.). Ensine a turma a juntar o que é semelhante, ou seja, constituir uma série, e o que apresenta pequenas alterações (de cor, forma, tamanho, rótulo, características), formando subgrupos. Pergunte o que é igual e o que é diferente em cada grupo. Faça uma reflexão sobre o mundo industrial, a produção em série e a multiplicidade das coisas na natureza e na cultura. As crianças devem criar colagens ou objetos artísticos inspirados em figuras geométricas conhecidas, como triângulos, círculos, ou mesmo estrelas, figuras humanas etc. Observe a forma poligonal de Operários.
Proponha ainda a montagem de um painel com fotos dos alunos e de seus parentes, criando uma discussão sobre a diversidade e a convivência de tipos, comportamentos, características, sexos e raças. Volte a Operários. Procure construir o significado da pintura: a proposta de união e de construção social de vários tipos e classes, em que todos serão os "operários" de uma nova sociedade brasileira. Ajude as crianças a montar uma linha do tempo com as obras da artista, distinguindo o que caracteriza a geométrica fase pau-brasil e a surrealista antropofágica.
Retrato de uma paulicéia trabalhadora
Em 1933, quando Tarsila pintou Operários, São Paulo já havia se consolidado como o principal centro urbano e industrial do país. O acúmulo de riquezas originadas pelos negócios do café, as importações e exportações e a presença de imigrantes possibilitaram o crescimento da cidade.
O desenvolvimento industrial deu-se com a instalação de fábricas de tecidos, alimentos e vestuário. Até 1920, entre 6% e 10% da população morava em cidades. Nos 20 anos seguintes, esse porcentual aumentou para 31%. A maior parte dos trabalhadores que vieram de outros países e de regiões brasileiras chegava em São Paulo. Hoje, mais de 10 milhões de pessoas vivem em pouco mais de 1500 quilômetros quadrados na capital paulista, a maior cidade da América do Sul.
O QUE É O MODERNISMO Estudar a tela Operários é uma boa oportunidade para despertar a curiosidade da turma sobre o modernismo, movimento estético que sacudiu as artes plásticas, a literatura, a música e outras manifestações artísticas mundiais no final do século 19. Tudo começou na Europa, como resposta dos artistas de vários países às mudanças de comportamento trazidas pela industrialização. O movimento chegou ao Brasil somente nos anos 1920. Ironicamente, artistas brasileiros que haviam estudado na Europa perceberam, ao voltar, como os elementos de nossa terra (índios, frutas, culinária, danças etc.) eram ricos. Assim, renegaram os valores europeus até mesmo por meio de manifestos e reinventaram técnicas para criar o que muitos críticos consideram uma arte genuinamente brasileira. As telas de Anita Malfatti e Lasar Segall, as esculturas de Victor Brecheret, os textos de Mário e Oswald de Andrade e, finalmente, toda a efervescência cultural que foi a Semana de Arte Moderna de 1922 transformaram-se nos grandes ícones da produção modernista brasileira.

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